terça-feira, 21 de agosto de 2012

A Brisa do Salgado

            Dimas Macedo 



                                                                                     
                Nasci no sítio Calabaço, em Lavras da Mangabeira (CE), não muito distante da confluência do Riacho do Rosário com o Rio Salgado, mas necessariamente na margem esquerda de ambos, signo talvez da minha opção política e da minha luta em defesa da ética e da dignidade, e contra a perversão do capital e dos sistemas desumanos de vida.

               Sou filho de pequenos agricultores que lutaram contra as asperezas da terra, que foram vítimas da incompreensão humana e dos rigores da seca de 1958, quando se mudaram, definitivamente, para a cidade de Lavras.

              Cresci num ambiente familiar marcado por conflitos e necessidades que foram modelando, em parte, o meu jeito de ser e de agir, que tem por referência a personalidade do meu pai, José Zito de Macedo, o maior herói de toda a minha vida. Herói e poeta, assim como o meu avô Antônio Lobo de Macedo (Lobo Manso), meu patrono na Academia Lavrense de Letras e a maior de todas as minhas preferências, no plano da cultura.

             A minha mãe, Maria Eliete de Macedo, que tudo fez para melhorar as minhas condições de vida e de saúde, que sempre me foram dadas com muita parcimônia, foi o primeiro anjo de luz que conheci, e a ela sempre devotei a atenção com que veneramos os santos do altar.

             Orgulho-me, profundamente, de ter nascido em Lavras da Mangabeira e  de ter passado a infância nas margens do Salgado, símbolo maior da minha criação, porque nas águas do Salgado, desde muito cedo, percebi o sentido da vida enquanto movimento e enquanto reciclagem das minhas energias.

             Não creio, sinceramente, que exista, nas margens do Salgado, alguém que ame mais a minha terra do que eu, nem que saiba mais da sua geografia e das suas cartas de navegação, no plano do imaginário.

            O jornal O Boqueirão, a Associação Universitária de Lavras da Mangabeira, os livros de pesquisa e os poemas que escrevi sobre o município de Lavras e, de último, a Academia Lavrense de Letras, são testemunhos, certamente inequívocos, da minha vontade de lutar pelo bem maior da minha terra.

             O meu livro – A Brisa do Salgado (Fortaleza, Editora Imprece, 2011) – é aquele que mais me tocou a emoção durante o seu processo de feitura. Não se compara a nada do que escrevi no campo literário, porque se enquadra, decididamente, entre a pesquisa biográfica de corte científico e a leveza da crônica de sentido social ou memorialístico.

             Trata-se, no caso, de um conjunto de resenhas e perfis cujo ponto de partida é a história de Lavras ou a trajetória de pessoas que nasceram naquele município; aspectos da sua evolução, da sua ocupação e do seu atual estado de abandono; louvação dos seus veros poetas populares e dos valores maiores com os quais a velha Princesa do Salgado registrou o seu cotidiano.

               Não se pretende, contudo, um livro concebido para atender a um fim determinado ou ao preenchimento de um vácuo que resultou avaliado pela minha exigência de artista ou de historiador do município de Lavras.      

                Mas seja como for, A Brisa do Salgado não deixa de ser um livro seminal, ainda que tenha sido elaborado num momento muito pobre da história de Lavras, cujo patrimônio cultural continua sendo destruído, apesar do quarto jubileu da sua freguesia, a se concretizar em 2013, e do bicentenário da sua emancipação, enquanto município, a ser comemorado em 2016.

                 Peço, por fim, aos leitores desse livro que examinem, de primeiro, os termos da sua linguagem criativa e o vocabulário com os quais ungi e minutei as suas linhas de força e, bem assim, as tintas do afeto com que pintei os cenários e perfis que aqui se acham retratados.

Um comentário:

  1. Parabéns, nobre professor e poeta,Dimas Macedo, por este excelente blog. Li algumas crônicas sobre personalidades nossas, e gostei muito.Aqui se encontra artigos sobre Literatura e Direito dos mais brilhantes. Vale a pena a gente conferir o que aqui está inserido, porque tudo é belamente escrito e rico em substância literária. Grande abraço, poeta!

    Poeta J. Udine.

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