Lembro-me que, em janeiro de 1978, estive
com ele no seu Gabinete de Pró-Reitor na UFC, pedindo-lhe uma apresentação para
o jornalzinho O Boqueirão, que eu tinha fundado, com alguns colegas, em
Lavras da Mangabeira, e do qual eu era o redator. Ele nos atendeu com a maior
presteza, e o seu texto foi publicado em toda a extensão da primeira página do
jornal.
Tenho uma foto com ele, o Alcides Pinto,
o Girão Barroso, o Caetano Ximenes Aragão e o maestro Alvarus Moreno que data
de setembro de 1983. Ali, eu me destacando como o único jovem entre eles, com
apenas 27 anos. Isto na casa do Alcides Pinto, na Rua Rodrigues Júnior.
Sempre convivemos de forma fraterna e
bastante próxima, ele me contando a origem de muitos personagens e cenários dos
seus contos, como se a ficção fosse o desdobramento de suas vivências na
infância, nas margens do Rio Salgado, e como se eu tivesse sido seu
contemporâneo.
Dele sempre recebi as maiores atenções e os
melhores incentivos. Quando entrei na Academia Cearense de Letras, em agosto de
1989, aos 32 anos, ele se antecipou e pediu para ser o redator do parecer
pertinente à minha admissão, fazendo, na oportunidade, um texto bastante
acolhedor e afetivo.
Não conto as vezes que lhe dei carona no
meu carro, levando-o de volta para casa, nem quantas vezes nós nos encontramos
para conversar sobre literatura ou para discutirmos sobre as minhas observações
sobre os seus contos.
Sempre
li e reli a maioria dos seus contos, deliciando-me com a sutilidade, a precisão
semântica e o achado estilístico com que ele recorta as suas ironias e o tecido
de todos os seus contos, entre os quais destaco: “O Preso”, “Lamas e Folhas”,
“A Gota Delirante”, “Os Dozes Parafusos” e “Irmã Cibele e a Menina”.
Moreira Campos, de forma
induvidosa, é um dos melhores escritores do Brasil. Não pertence somente ao
Ceará ou ao Nordeste. É universal. A sua escritura literária tem o gosto da
permanência e da concisão. É sutil, libidinosa e envolvente. E esteticamente
muito bem realizada.
Especialmente como contista, o autor de Cantos Escolhidos pode ser comparado a
Machado de Assis, pertencendo, portanto, à linhagem dos grandes arquitetos da
estória curta, a exemplo de Rulfo, Júlio Cortázar e Guy de Maupassant.
Vale a
pena, portanto, relembrar a vida e a obra desse grande contista cearense, assim
como o fez o escritor Waldir Sombra, com o seu imprescindível – Moreira Campos: Professor de Histórias e de
Amizade (Fortaleza, Editora Prêmius, 2011).
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