No seu tratado sobre a doutrina das cores, Goethe mostra-nos o quanto é ilusório pensar que as cores existem para além do ponto de vista do sujeito. Por outro lado, a partir da estética de Hegel, ganhou notoriedade o fato de que a beleza, tanto da arte quanto da vida, passa, necessariamente, pelo crivo da nossa visão interior.
As cores são polares, isto é,
transmutam-se umas nas outras e reinam umas sobre as outras dependendo da ótica
com a qual observamos a policromia das artes ou da natureza, com o passar do
tempo.
Vivemos um momento em que o branco e o
preto passaram a ganhar uma austeridade toda especial, assumindo o seu lugar no
banco de reserva das cores. Dizemos que o mundo ficou mais colorido,
simplesmente porque o preto e o branco deixaram de ser as cores que predominam
no tecido social histórico pós-moderno, mas não nos arriscamos a dizer que isto
acontece porque o branco e o preto saíram de circulação exatamente para matizar
as camadas de luz que devem orientar o déficit
de atenção em que vivemos.
Como artista genial que é, Mano
Alencar sabe, muito bem, que a confirmação de uma tendência multicolorida pode
levar a um desvio, mas que um desvio não é, necessariamente, a confirmação de
uma nova tendência.
Se o branco representa a junção de todas
as cores existentes, o preto, a seu turno, constitui a sua negação, de forma
que no preto e no branco estão todas as cores que podemos imaginar.
Na sua série de arranjos artísticos com
que empreende uma viagem pelo branco e o preto, Mano realiza o seu percurso
criativo não a partir de uma ilusória, mas a partir da imaginação e da
lembrança.
O preto e o branco não se expressam como
uma nova fase da obra de Mano Alencar, mas como uma série. Parece-me induvidoso
que ele quis mostrar o quanto a cegueira, com relação ao preto e ao branco, é
um desvio que precisa ser retomado; e o quanto um artista de talento é livre
para inovar, pesquisar ou simplesmente sugerir.
Essa série nova na obra do artista
plástico Mano Alencar, leva-nos a pensar na sua dimensão de músico e de poeta
das cores, a oscilar entre o cânon e a fuga das suas partituras criativas.
Mano Alencar é um artista sensível e,
acima de tudo, inquieto e indisciplinado. A sua indisciplina faz-se, fundamentalmente,
contra a gramática do mundo, cada vez mais caótica e repleta de chavões e de
linguagens ditadas pelo capital e por todas as formas de perversão que ele
representa.
Estou que Mano Alencar atingiu,
definitivamente, o seu pedestal e a sua condição de clássico, sem perder o
gosto pela lírica e a estética, especialmente pela estética do branco, que
contém o preto, onde todas as cores estão refletidas.
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