Não acredito em
profeta
Nem que seja o
João Ferreira
Que o homem que
escreve asneira
Tem que passar
por pateta
Eu rimo e não
sou poeta
Pois ciência não
me cabe
Acho bom que não
se gabe
Profeta de
Pernambuco
Ou moço velho é
maluco
Escrevendo o que
não sabe
Não dou crença a
profecia
Nem as do Manoel
Luís
Profeta como se
diz
Escreve sem
garantia
É somente uma
mania
De adquirir o
tostão
Ele é um tolaião
Disse que em
cinquenta e setembro
Feijão secava o
canivete
E milho morria
em pendão
Profeta de
Fortaleza
Perdeu a sua
nobreza
Digo e não peço
segredo
Sou homem de
pouco medo
Esse profeta é afoito
Escreveu em
cinquenta e oito
Que era inverno
abundante
Foi quase seca
assolante
Profeta marca
biscoito
O profeta Zé Saraiva
Escreveu pra
fazer raiva
Em toda esta
ribeira
Passou no povo
leseira
Disse que o mês
de abril
Ia ser de chuvas
mil
No ano cinquenta
e nove
No mundo tudo
Deus move
A chuva passou
em funil
Profetizando o
futuro
Amanhã tudo é
escuro
Não fica o papel
decente
O Deus grande
onipotente
Muda tudo em uma
hora
Ele em seu reino
de glória
É bastante em
seu pensamento
Acaba o mundo em
um momento
Profeta não tem
vitória
Experiência não
voga
Todo profeta se
afoga
Marca chuva e
não vem cá
Deixei de
acreditar
Na barra da
Conceição
E na de São
Sebastião
Nada disso faz
chover
Depois de Deus
não querer
Nem relâmpago
nem trovão
Nem relâmpago no
nascente
Nem a barra do poente
Tudo isso não dá
sorte
Nem parado o
vento forte
Nem mancha do
sul fugida
Nem lua nova
pendida
Nada disso faz
chover
Depois de Deus
não querer
Toda ciência é
perdida
À tarde a rã
rapa e cuia
O sapinho canta
aleluia
Gargareja o
cururu
Canta e apita o
inambu
E o tempo
abafado e quente
Geme o trovão no
nascente
Nada disso faz
chover
Depois de Deus
não querer
Não há homem
experiente
Nem mesmo o xexéu cantando
Nem cupim
criando asa
Nem aranha
fechar casa
Nem o pau-d’arco
florando
Nem todo padre
rezando
Os que existem
no mapa
Nem Bom Jesus da
Lapa
Nada disso faz chover
Depois de Deus
não querer
Nem mesmo as
preces do Papa
Nem o imbuá
trepando
Nem formiga se
assanhando
Nem seriema
cantando
Nem o peixe bem
ovado
Nem buriti
carregado
Nem reza de
inocente
Nem dia frio e
nem quente
Nada disso faz
chover
Depois de Deus
não querer
Nem dia de São
Vicente
Nem milho de
cobra espigado
Nem cumaru
carregado
Nem as grandes
profecias
Dos profetas de
hoje em dia
Que vêm sempre
se enganando
Nem mandacaru
florando
Nada disso faz
chover
Depois de Deus
não querer
Nem os
três-potes cantando
Nem dia de São
José
Nem peitica
assoviando
Nem sabiá
gorjeando
Nada disso eu
tenho fé
Regula é se Deus
quiser
Nem os anuns
enxurrando
Nem capuxu se
mudando
Nada disso faz
chover
Depois de Deus
não querer
Nem mesmo o carão
cantando
Nem as águas
aumentando
Nem o zebelê
cantando
Nem o sal ficar
molhado
Nem o animal
suado
Nem poldro
escaramuçando
Nem galinha se
espojando
Nada disso faz
chover
Depois de Deus
não querer
Nem o burro
velho rinchando
Nem barra de
Nascimento
Nem a de Dia de Ano
Tudo isso é um
engano
Quem traz a
chuva é o vento
E Deus manda num
momento
Vê-se num grande
verão
Noite clara e
sem trovão
E é bastante
deus querer
Se enuvoa e faz
chover
Amanhece a
inundação
Não existe
experiência
È só a grande
ciência
Do autor da
criação
Vê-se num grande
verão
Todo o legume
arrasado
O povo
desenganado
E é bastante ele
querer
Com meia hora se
vê
Todo o terreno
alagado
Nem cantando o
lagartão
Nem o besouro
serrar o pau
Nem gritando o
bacurau
Nem voando o
corujão
Nem besourinhos
furar chão
Nem mata-pasto
florando
Nem o caboré
cantando
É bastante Deus
querer
Nada empata de
chover
Nem tanajura
voando
Nem a d’Alva no
nascente
Nem sempre limpo
ao poente
Nem o carreiro
manchado
Nem o céu bem
estrelado
Nem andorinhas voando
Nem mãe-de-lua gritando
É bastante Deus
querer
Nada empata de
chover
Nem mesmo acauã
cantando
Não há sábio que
conheça
O que Deus tem
pra fazer
E não deve se
meter
Porque perturba
a cabeça
Nem que suba nem
que desça
Nem que seja
mais além
O dia em que a
chuva vem
Não devemos
escrever
Que não podemos
saber
Nem eu nem tu
nem ninguém
Se a obra
estiver mal feita
Quem pode fazer
perfeita
São os grandes
professores
E os bons compositores
Mas não um homem
atrasado
Quem não é
gramaticado
Tendo a veia de
poeta
Não faz a obra
completa
Escrevendo tudo
errado
Eu mesmo posso
dizer
Que não sou de
nova seita
Não faço a obra
perfeita
Porque não sei
escrever
Quem souber pode
fazer
Não conheço
ponto agudo
Neste sentido eu
sou mudo
Sou como um sapo
peado
Nas letras sou
atrasado
Porque não tive
estudo
Um homem pra ser
poeta
Fazer a obra
completa
Polida com
perfeição
Com toda a
pontuação
Fazer a rima
direita
A poesia bem
feita
Precisa estar no
toante
Faltando o
consoante
Torna-se a obra
mal feita
Toante é o som
que entoa
Como bem esse
casquete
Arrebento no
cacete
Depois faço uma
canoa
Este é o som que
reboa
Por vão de serra
ou quebrada
Como bomba
disparada
Consoante é já e
có
Rimando com cá e
có
A obra fica
tarada
Ou seja padre ou
doutor
De medicina ou
bacharel
Pode possuir o
anel
Que tenha todo o
valor
Seja o melhor
professor
Seja um
engenheiro formado
Seja um dentista
afamado
Não tendo a veia
de poeta
Não faz a obra
completa
Este é serviço
pesado.
Caro Dimas Macedo, o Poeta "Lobo Manso" - nessa ocasião deixou de lado a mansidão, ficou brabo mesmo e iniciou a desancar os profetas de meia-tigela, não escapando até Joaquim Roque de MACEDO, apesar do sobrenome familiar. João Ferreira, Manoel Luis e Zé Saraiva não devem ter gostado dessas vinte e três décimas bem metrificadas que os invectivavam, pondo em xeque suas profecias-de-inverno, baseadas, talvez (?) no LUNÁRIO PERPETUO, que era uma espécie de calendário sertanejo que orientava sobre plantações e previsões.
ResponderExcluirQuerido primo, grande abraço.
ExcluirRABISCOS EM HOMENAGEM AO MEU AVÔ ANTONIO LÔBO DE MACÊDO (POETA LÔBO MANSO)
ResponderExcluirCARLINHOS GOMES
O POETA LÔBO MANSO
DE QUEM EU SOU DESCENDENTE
E POR ISSO SOU CONTENTE
SEMPRE DIGO E NÃO ME CANSO
ERA HOMEM SEM BALANÇO
DE POSIÇÃO DEFINIDA
POIS EM TODA SUA VIDA
NÃO PLANTOU ÓDIO OU RANCOR
ESCREVIA COM AMOR
POESIA GARANTIDA
SEI QUE ERA HOMEM DE BEM
DE RESPEITO E AMIZADE
COM SUA SIMPLICIDADE
NUNCA FEZ MAL A NINGUÉM
DO TRABALHO FOI REFÉM
NO VERSO FOI GENIAL
FOI UM HOMEM SEM IGUAL
COMPLETO COMO SE DIZ
SEU TRAJETO FOI FELIZ
PARA NÓS FUNDAMENTAL
NO VALE DO CALABAÇO
SEMEOU SUA BONDADE
COM MUITA PROSPERIDADE
NUNCA DEIXOU EMBARAÇO
A DECÊNCIA FOI SEU TRAÇO
E UM AMOR FAMILIAR
MINHA MÃE PRA CONFIRMAR
A TERNURA E O CARINHO
NO COLO FAZIA NINHO
PARA OS FILHOS BAJULAR
SUA CONDUTA FOI RETA
NA POLITICA TEVE AÇÃO
DEIXOU A DEMONSTRAÇÃO
DE UMA POSIÇÃO CERTA
DEIXOU HERANÇA CORRETA
DE CARÁTER E HOMBRIDADE
COM SUA SERENIDADE
SEM TEMOR OU COVARDIA
BONDADE POR GARANTIA
SÓ DEIXOU FELICIDADE
Carlinos Gomes, meu primo, forte abaço
ExcluirMuuuuuuito bom!!!
ResponderExcluirDalinha Catunda, viva a poesia popular
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