Professora Balbina Arrais
“Dona de uma beleza helênica, alta, esbelta e fisicamente
perfeita”, segundo o historiador Otacílio Anselmo, Balbina Lídia Viana Arraes
nasceu na Vila de São Ferrer das Lavras, aos 5 de dezembro de 1862, sendo filha
de João Casemiro Viana Arraes e Mariana Infante Lima.
Ainda
para o mesmo historiador, “é possível que tenha feito os seus primeiros estudos
no próprio lar, tendo como professores seus pais, pois à época não havia
estabelecimentos públicos e nem particular de ensino”, o que deve ser tomado
como um grande equívoco, pois a partir de 1856 já existia, na Vila de Lavras,
segundo a historiadora Rejane Augusto, uma cadeira pública de ensino para o
sexo feminino, regida pela professora Generoza Cândida de Albuquerque.
É possível, sim, que a menina
Balbina Lídia tenha sido aluna da professora Francisca de Mendonça Albuquerque
Moraes, e deve ter tido uma juventude fulgurante, porque efetivamente bela e
amplamente culta e erudita foi essa ilustre lavrense nascida no século
dezenove.
Em 1884, aos 22 anos, foi levada a
Fortaleza, onde se submeteu a concurso para o Magistério Público, no antigo
Liceu do Ceará, sendo aprovada com altivez. No ano seguinte, mais precisamente
a 16 de janeiro de 1985, ingressou como professora da Instrução Pública do
Estado, por nomeação do Presidente da Província, Honório Benedito Ottoni, o
mesmo que elevou a sua terra natal à categoria de cidade, aos 20 de agosto de
1884.
Na qualidade de uma das primeiras professoras
públicas do Ceará, Balbina começou sua carreira no magistério público cearense
com bastante ânimo e determinação, primeiramente em Caririaçu, dali iniciando
uma verdadeira maratona pelas vilas e cidades da região sul do Ceará.
Em 21 de novembro de 1887, foi
transferida para a vila de Várzea Alegre, onde casou com Lydio Dias Pedroso,
farmacêutico, natural do Crato e cidadão cujas convicções políticas eram
opostas à situação dominante. Esse
acontecimento mudou a vida da professora Balbina, pois determinou as sucessivas
remoções da mesma para localidades as mais variadas.
Em 4 de setembro de 1890, no governo
de Luiz Antônio Ferraz, foi designada professora pública da sua terra natal,
segundo Otacílio Anselmo, mas para Rejane Augusto ela teria entrado no
exercício do cargo a 16 de janeiro de 1888, ali permanecendo até 17 de março de
1892.
Com efeito, nesta última data, na
gestão Benjamim Liberato Barroso, foi removida para Barbalha. E dessa cidade,
em 9 de setembro de 1893, foi transferida para o ensino misto da cidade de
Iguatu, onde se demorou menos de um ano, pois a 27 de junho de 1894, pelo mesmo
governante acima referido, foi deslocada para Várzea Alegre.
Finalmente, a 25 de junho de 1898, foi transferida para Brejo Santo,
pelo presidente Antônio Pinto Nogueira Acióli. Mas com o falecimento do seu
esposo, a 20 de agosto de 1898, a vida nômade de Dona Balbina chegou a um fim,
iniciando-se aí a sua fase de maturidade como civilizadora social maior de
Brejo Santo.
A primeira escola pública daquele município,
dirigida por Dona Balbina, foi instalada na Rua da Taboqueira, numa sala de
propriedade do Coronel Basílio Gomes da Silva, chefe do executivo municipal
entre 1893 e 1909, sendo depois transferida para o centro da cidade.
Após o falecimento do seu esposo, que lhe deixou apenas uma filha,
Balbina Lídia passou a ter a companhia do seu irmão, o Padre João Casimiro
Viana Arrais, que chegou a Brejo Santo, como vigário, em 1903, impulsionado por
uma ânsia de progresso e desenvolvimento que ainda chama a atenção dos
historiadores daquele município.
A 20 de abril de 1911, no entanto,
dá-se a morte do Padre João Casemiro, com a idade de apenas 36 anos, e Dona
Balbina Arrais, ainda que sozinha, resolve levar adiante a sua bandeira de
lutas e de ações nos campos da vida social, educacional e religiosa daquele
lugarejo, não parando mais de trabalhar, mesmo diante da sua aposentadoria,
ocorrida a 16 de setembro de 1919.
No posto de professora pública de
Brejo Santo foi sucedida pela sua própria filha, Balbina Pedrosa Viana Arrais
(Dona Pedrosinha), diplomada também em Fortaleza e que fez fortuna na educação
daquele município.
Jamais se aposentando da sua
condição de Mestra, viveu até os últimos anos da sua proveitosa existência
sempre rodeada de alunos, especialmente de crianças, que buscavam extrair dela
as suas histórias e lições e o seu fulgor educacional.
No plano da vida religiosa, fez-se
igualmente notória a sua atuação. Foi presidente do Apostolado da Oração, desde
a sua criação pelo Padre Viana até o seu falecimento, dirigindo também naquela
localidade a Confraria de Nossa Senhora do Carmo, fundada pelo Padre Monteiro.
Não se conformando, contudo, com a
religiosidade do povo de Brejo Santo, afixou, em um dos cerros que ladeiam a
cidade, um majestoso Cruzeiro, que ainda hoje ali permanece, e que se
transformou, com o tempo, em símbolo de fé e peregrinação.
Faleceu Dona Balbina Lídia aos 28 de
fevereiro de 1951, aos oitenta e nove anos de idade, na mesma residência que
edificou juntamente com o seu irmão, o Padre João Casemiro Viana Arraes, e que
passou para a história do Cariri como o nome de Solar dos Arrais, uma das mais
belas edificações do Ceará.
Era uma criatura de raríssimo
valor. Caráter sem jaça e espírito cristão por excelência, possuía um
equilíbrio moral a toda prova, era portadora de uma social impressionante e a
todos cativava com a sua postura de senhora altiva e sempre decidida diante das
coisas do saber.
Conhecendo o resplendor da sua
trajetória e a sua luta em defesa da cultura e da educação, em 2010 propus o
seu nome para a condição de Patrona da cadeira nº 36 da Academia Lavrense de
Letras, ocupada por Cristina Couto, destacando no meu livro: Literatura Lavrense – Notas Para Sua
História (Fortaleza, Edições Poetaria, 2010) que Balbina Lídia foi “a mais
ilustrada e erudita lavrense nascida no século dezenove, com ressonância em
todo o Ceará”.
Recortes da sua biografia
edificante foram tracejados por Otacílio Anselmo em dois artigos estampados na
revista Itaytera, do Instituto
Cultural do Cariri, e outros depoimentos sobre a sua vida e a sua obra de
educadora podem ser consultados em vários sites da internet.
Dona Balbina Lídia, de forma
induvidosa, é um dos orgulhos do município de Lavras, ao lado do seu irmão,
João Casimiro Viana Arrais, que se encontra biografado no meu livro Lavrenses Ilustres, e que foi um dos
grandes intelectuais do Cariri, no início do século precedente.
Fortaleza, março de 2011
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