Retrato de Alcides Pinto pintado por
Fernando França
Convoco as musas risonhas
com
suas formas estéticas
da
vida extraio as patéticas
maneiras de ver o mundo
e dos abismos profundos
do ser
tal como um esteta
com a
visão de um profeta
e os
sonhos de Baudelaire
faço
profissão de fé
para
falar de um poeta.
Seu
nome é José Alcides
Pinto
e provém da ribeira
do
Acaraú e anda à beira
da
loucura que o consome
pronunciar o seu nome
é um
ato de maldição
porque
o seu coração
não
comporta desenganos
é
maior que os oceanos
que
campeiam a imensidão.
É um
poeta maldito
bucólico
e visionário
diabólico e solitário
tal
como foi Mallarmé
descende dos Tremembés
e de
um pastor de ciganos
inda
no verdor dos anos
teve a
visão das quimeras
e o
rastro da besta-fera
persegue sempre os seus planos.
Erótico e contemplativo
exótico assim como um monge
seus
versos ressoam ao longe
seu
canto é quase profético
seu
jeito quase esquelético
lhe dá
a dimensão de um sábio
é um
romancista hábil
porém
seu fazer artístico
revela um poeta místico
só no
murmurar dos lábios.
Ensaísta e teatrólogo
tem
parte com o Satanás
porém
não se satisfaz
com a
obra que nos legou
e diz
que apenas esboçou
parte
de sua escritura
e
algumas partituras
para
tocar ao piano
antes
de findar seus anos
ou no
reino da iluminura.
Tem no
sobrenatural
a sua
razão mais forte
pois
acredita que a sorte
determina a existência
é
fatalista e a ciência
pra ele é o desconhecido
é um
mágico enlouquecido
o
criador de O Dragão
tem
mesmo parte com o cão
esse
poeta atrevido.
É Editor de Insônia
e um homem cheio de estigmas
é o
autor de O Enigma
que
ainda não deciframos
é o
poeta que amamos
como
ao irmão mais querido
é um
soldado ferido
nas trincheiras da ilusão
da
guerra em que o coração
pelo
amor foi vencido.
É um
Pedro Malasarte
em
artifício e mistério
reza
no seu batistério
que
viverá muito além
que
viveu Matusalém
com
sua melancolia
quando
nasceu era dia
porém
tudo escureceu
quando
o Alcides nasceu
fazia sol e chovia.
nada
existe neste mundo
nem
mesmo os brados profundos
de
Cristo preso ao madeiro
nem
Antônio Conselheiro
com a
sua nobre missão
nem
Bonaparte e Platão
nem o
ouro que reluz
nada
tanto nos seduz
quanto
a sua pregação.
Nem Os
Doze Pares de França
com as
suas mil aventuras
nem O
Grilo com as diabruras
que a
ninguém deu descanso
e nem
mesmo Lobo Manso
que
foi vate de primeira
nem Romano do Teixeira
nem a
luz da existência
nada
como a inteligência
dessa
figura altaneira.
Seu
pensamento é fantástico
trágico e pornô a um só tempo
suas
palavras os ventos
espalham pelas montanhas
e
penetram nossas entranhas
como
mensagens de fé
seus Cantos de Lúcifer
desmistificam
ilusões
são
tais como as danações
do
corpo de uma mulher.
Abutre
da Noite Verde
poeta
desconcertante
não se
aquieta um instante
sempre vive a produzir
mesmo
tendo que mentir
prefere a verdade nua
incisiva, fria, crua
como a
de Augusto dos Anjos
o
acorde dos seus arranjos
pelos espaços flutua.
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