Lobo Manso
Batista de Lima
Antônio
Lobo de Macêdo é o verdadeiro nome do poeta Lobo Manso. Nascido em Lavras da
Mangabeira, em 29 de julho de 1888, veio a falecer na mesma cidade, em 20 de
abril de 1960.
Poeta popular de reconhecido valor literário,
Lobo Manso teve um filho e um neto na Academia Cearense de Letras, no caso,
Joaryvar Macedo e Dimas Macedo. Isso sem contar outros descendentes que também
cultivavam a poesia, como é o caso de Zito Lobo, seu filho. É, pois, sua
família, um esteio de poetas.
Em 1988, por ocasião do centenário de seu
nascimento, seus descendentes organizaram homenagens de cunho religioso e
político, como missa na capela do Sítio Calabaço, onde ele nascera, e na Câmara
Municipal de Lavras, onde ele tivera assento como vereador.
Naquela ocasião, seu filho escritor, Joaryvar
Macedo, organizou um livro, com sua produção literária, com o título de Antônio Lobo de Macedo: O Homem e o Poeta.
Mais recentemente, 2010, por ocasião do cinquentenário de sua morte, seu neto,
o poeta Dimas Macedo, reeditou o livro com alguns acréscimos.
Além destes textos iniciais, aparecem, logo
em seguida, os poemas do homenageado, e, ao final, a árvore genealógica para
mostrar todos os descendentes do poeta. É nesse momento que se descortina uma
família com muitos de seus membros destacados nas mais diferentes atividades
humanas.
A ênfase, no entanto, recai sobre a produção
poética de Lobo Manso, o patriarca. Sua poesia, de feição popular, se estrutura
em redondilha maior, seguindo um esquema de rimas tradicionalmente usado pelos
poetas do povo. Até aí, não há muita novidade.
O que chama mais a atenção do leitor é o
inusitado dos seus temas. A sua visão de mundo mostra um poeta cético diante
dos exageros visionários da maioria dos sertanejos que acreditam primeiramente
em milagres e premonições, antes de encarar a realidade que lhes cerca. Muitos
estão com os olhos em subjetividades e esquecem a razão.
Esse compromisso com o
real o levou a confeccionar seu antológico poema de negação às experiências
muitas vezes malogradas dos profetas da chuva. O poema foi publicado em folheto
de cordel e teve grande repercussão por desmontar as crendices oriundas
daqueles que vivem a fazer previsões de inverno. Logo de início ele afirma que
"profeta como se diz / escreve sem garantia".
Para citar algumas das
experiências ele utiliza uma de suas décimas e desanca os visionários.
"Nem torreame no Norte / nem relampo no Nascente / nem a barra do Poente /
tudo isso não dá sorte / nem parado o vento forte / nem mancha do sul fugida / nem
lua nova pendida / nada disso faz chover / depois de Deus não querer / toda
ciência é perdida.”
Ainda nesse poema, Lobo Manso utiliza outra
décima para, na mesma batida popular, fazer um alerta para quem deseja fazer
versos. É um momento em que a poesia fala de si própria, fazendo com que o
leitor se veja diante de um texto metapoético.
Daí que ele assevera: "precisa muita
instrução / um homem pra ser poeta / fazer a obra completa / polida com
perfeição / com toda a pontuação / fazer a rima direita / a poesia bem-feita / precisa
estar no toante / faltando a consoante / torna-se a obra malfeita.” Como se vê,
o polimento, ele defende, como para nos dizer que a poesia não é apenas produto
de inspiração.
Lobo
Manso, no entanto, não foi apenas poeta. Afinal, militou a vida toda na
política municipal de Lavras, chegando a vereador da cidade e guardando
fidelidade ao seu partido político, no caso, a UDN, que no Ceará tinha como
principais dirigentes, os representantes da família Távora. Seus ídolos, na
política, eram: Juarez Távora, Fernandes Távora e Vírgílio. Tavorista ferrenho,
sempre fez oposição à família Augusto, de Lavras, que dominou a cidade por
quase cem anos e militava no PSD.
Ainda na política, não restringiu seu olhar
ao cenário lavrense. Quando surgiu a Revolução de 30, ele cantou loas à
derrocada dos coronéis sertanejos. Não ficou apenas a cantar o enfraquecimento
de Raimundo Augusto, coronel local, mas voltou-se na sua desforra verbal contra
o coronel Zé Pereira, o famoso mandatário de Princesa.
"Zé Pereira já foi trunfo / em todo
aquele sertão / foi protetor de bandido / da mais alta posição / foi sócio de
Suassuna / no tempo de Lampião". Essa oposição lavrense, leia-se UDN,
dificilmente chegava ao poder, mas era resistente e comandada por: José
Linhares, Alexandre Benício, Lobo Manso e João Ludgero Sobreira.
Mesmo cético com relação a
crendices e fanatismos, não deixou de cantar [no poema O Garrote Misterioso],
talvez inspirado em O Pavão Misterioso, a história de um garrote que teria
falado no Estado da Bahia.
Na realidade, é um poema
de desabafo contra a 2ª Guerra Mundial liderada pela Alemanha, mas também uma
previsão do fim do mundo para 1999. Daí uma das estrofes: "Vê-se gente
despedaçada / de uma e outra nação / um sem perna outro sem braço / rolados
pelo canhão / uns doidos outros sem fala / todos varados de bala / rolando
frios no chão.”
Como se vê, Lobo Manso
estava antenado com o que acontecia na Europa, Bahia e Lavras da Mangabeira.
Agricultor, pouco letrado, deixou seus versos e sua honradez para os pósteros,
como prova de seu tirocínio voltado para o futuro. Daí os valores intelectuais
e morais de seus descendentes.
Diário do Nordeste.
Fortaleza,
15.02.2011
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