Dimas Macedo
Astrojildo Pereira
Se no Brasil, efetivamente,
segundo o pensamento de Leandro Konder, houve uma derrota da dialética,
pertinente à recepção das ideias de Marx, na primeira metade do século
precedente, creio que essa assertiva não pode ser aplicada ao caso de
Astrojildo Pereira.
Autodidata de formação erudita,
militante político aguerrido, estrategista da ação política de esquerda e
crítico literário com excelente acolhida pelo nosso estrato acadêmico,
Astrojildo Pereira passou para o escaninho da história como um dos nossos
melhores ensaístas.
Devemos a Astrojildo a fundação do
Partido Comunista do Brasil (PCB), em 1922, e a manutenção do ideal socialista,
entre nós, mas sem descuidar, esse vero pensador marxista, da sua filiação à
causa comunista e ao discurso da ideologia democrática.
Astrojildo Pereira nasceu em Rio
Bonito (RJ). Foi anarquista na juventude e destacou-se, em 1913, como um dos
promotores do II Congresso Operário Brasileiro, iniciando na imprensa de
orientação marxista a sua carreira de jornalista e de agitador de ideias
culturais de esquerda.
Na sua produção de jornalista deixou
o nosso Jildo a marca da sua consciência cultural. Foi redator do jornal A Causa Operária, órgão oficial do PCB,
mas em 1931 desligou-se do Partido, passando a fazer crítica literária, ofício
no qual se distinguiu, a ponto de ser considerado um Mestre da observação e da
análise do texto.
Como estudioso de Machado de
Assis, revolucionou a interpretação e a estética da recepção da obra do grande
escritor brasileiro, atentando para a singular conjugação de contrastes que
marcou a vida tímida e sensual do nosso maior romancista.
Em 1939, Astrojildo Pereira deu a
público o seu ensaio pioneiro: Machado de
Assis, Romancista do Segundo Reinado, no qual deixa transparecer a sua
intuição de humanista e a sua cultura literária, chamando-nos a atenção para o
fato de que o escritor é o desdobramento do homem, e que “em Machado de Assis
coexistem e completam-se o analista rigoroso e frio e o criador empolgante”.
Em 1958, o seu livro seria
reeditado pela Livraria São José, do Rio de Janeiro, tendo a sua terceira
edição sido publicada em 2008, pela Editora da Fundação Astrojildo Pereira, com
o título sensivelmente modificado para
Machado de Assis – Ensaios e Apontamentos Avulsos.
O título e o conteúdo do livro foram
modificados para atender a um fim: ao rigor com que o organizador da edição,
Martin Cézar Feijó, esmerou-se em acostar ao texto original vários artigos
escritos por Astrojildo, em diversas oportunidades, tendo Machado de Assis como
objeto de reflexão.
No prefácio escrito por Ivan
Junqueira, especialmente para essa primorosa edição, podem ser observadas as linhas de força da
sua crítica literária e a exposição do rigor analítico com que o ensaísta
minutava a sua metacriação no plano da cultura.
Além dos anexos que foram
recolhidos no final do volume, vinte e dois escritos avulsos do autor que foram
acrescentados ao texto inicial, todos ao redor de Machado de Assis ou tendo
como fundo a sua perspectiva cultural.
O belo filme de Zelito Viana,
intitulado A Última Visita e
encartado nesta nova edição, empresta, com certeza, um brilho especial ao
projeto. Refere-se Zelito à visita inusitada que fez o jovem pensador marxista,
Astrojildo Pereira, ao Bruxo do Cosme Velho no seu leito de morte, e que não
passou despercebida por Euclides da Cunha.
Faço o destaque desse importante
ensaio de Astrojildo Pereira especialmente com o fito de mostrar o quanto ele
continua atual. E no mais eu gostaria de lembrar que os últimos estudos sobre
Machado de Assis caminham exatamente em sua direção, isto é, revelam-se tendo
como ponto de partida a perspectiva que Astrojildo colocou em debate.
Astrojildo Pereira não foi apenas
um militante político de esquerda: foi um grande crítico literário também. Um
crítico literário integral. Um pensador marxista incomum. E um homem que fez da
sua vida um exemplo de amor à causa social.
Saudosa época, fim do império e começo da república, em que coexistem os mais diferentes matizes de pensamento social, artístico e literário.A grande revolução russa incendeia as inquietas mentes dos trópicos. nesse contexrto, eclode Astrojildo Pereira, militante de esquerda, ensaísta e crítico literário ímpar. Contribui extraordinariamente para a difusão do ideal socialista ao fundar o PCB, Partido Comunista do Brasil, o qual se desfiliaria para exercer o ofício que o distinguia, a análise literária. Ensaísta da melhor estirpe, teve Machado de Assis como inspiração maior. Em Jildo coexistem paradoxais qualidades, a paixão do militante e a minúcia do literato, que só as grandes figuras são capazes de comportar. Se a matéria se foi, as ideias e a dedicação à Alta Literatura sobrevivem e servem de inspiração para as gerações posteriores, que tem em Jildo o exemplo de dedicação ao social e rigor analítico em favor da literatura.
ResponderExcluirPrezado Mateus Barreto, grato pelo seu lúcido comentário acerca da minha postagem sobre Astrojildo Pereira. Forte abraço.
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