segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Meus Sessenta Anos



           Dimas Macedo
                                                                           

            Comemoro os meus sessenta anos saboreando aquilo que mais aprecio: os prazeres da Literatura e o gosto sereno das palavras com as quais reinvento as minhas travessias. Dolorosa seria a minha vida se eu não pudesse ser o escritor no qual me transformei.

           Sou um amante excessivo do desejo, um esteta cuja expressão nunca é alcançada, um ser carnal e resoluto, um agiota da música e do silêncio, um místico cuja obsessão é a ausência ou o triunfo supremo da linguagem.

           Existencialista até a medula de todos os sentidos, não espero da vida senão a energia para continuar amando, senão a renúncia de tudo aquilo que aspiro, senão a fuga em busca das respostas, senão a solidão e os vinhos com os quais alimento os meus heterônimos.

          Sei que o poeta, o homem e jurista que representei irão sucumbir, silenciosamente, após a minha morte; e que ficarei, talvez, qual um retrato na mente de um amigo, qual uma corda lançada no abismo, em busca daquilo que nunca será encontrado. 

           Diante dos sessenta anos, percebo o tamanho da minha pequenez e da minha insignificância. Sei que nada sou, que nada serei e que as minhas cinzas serão esquecidas, que os meus livros e os meus registros serão apagados e que viverei em poucos corações, e que apenas o corpo de um Anjo provou o sal da minha boca.

           Confesso que nada tenho para confessar, que nenhuma palavra me resta dizer e que este texto foi escrito em testemunho do meu esquecimento e em tributo à vida da forma como eu a vivi: livre, desembaraçada, aberta, recheada de defeitos e inacabada como a minha obra literária. 

           Do que posso me orgulhar de ter feito? Orgulho-me porque eu trouxe ao mundo a existência dos meus filhos, porque me entreguei ao Amor quando eu achava que a vida já tinha terminado.

           Todos os tecidos da existência são solúveis, e todos os desejos que nascem, a tirania dos homens procura reprimir com as suas normas desumanas. Eis a religião na qual acredito. O resto será a paródia da vida e o silêncio, e a composição de um poema que nunca será terminado.